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Floresta: sinônimo de pobreza ou de riqueza?

Gilson Fernandes da Silva • nov. 12, 2021

 Gilson Fernandes da Silva


Possui graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (1992), mestrado em Ciências Florestais pela Universidade Federal de Viçosa (1995), doutorado em Ciências Florestais pela Universidade Federal de Viçosa (2001), pós-doutorado pela Universidade de Brasília-UnB (2002) e pós-doutorado pela Universidade da Flórida, Estados Unidos (2013). Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq, atualmente é professor Titular do Departamento de Ciências Florestais e da Madeira da Universidade Federal do Espírito Santo. Tem experiência na área de Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Ordenamento Florestal, atuando principalmente nos seguintes temas: Mensuraçao Florestal, Manejo Florestal e Otimização. (Texto informado pelo autor)

https://www.labmmfufes.com/laboratorio

Floresta: sinônimo de pobreza ou de riqueza?


Recentemente na COP26, Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Glasgow na Escócia, o ministro do meio ambiente brasileiro fez a seguinte afirmação em seu discurso: “... onde existe muita floresta existe muita pobreza.” Dada a importância do referido evento, esta afirmação merece ser avaliada com toda calma e discernimento. Esta reflexão precisa ser feita sem nenhum viés político partidário, mas sim à luz da ciência, que se baseia em fatos comprováveis, sendo totalmente desapegada de quaisquer influências pessoais. Neste contexto, na comunidade científica e acadêmica, já não há a menor dúvida de que as mudanças climáticas já são uma realidade e existem diversas evidências e artigos científicos publicados em revistas de alto impacto que comprovam estes fatos. O autor que vos fala pode prover a quem desejar estas referências. Por outro lado, uma pergunta a ser fazer é: qual o papel das florestas nesta história? Para responder a esta pergunta, é justo dizer que as florestas representam muito mais do que um mero estabilizador do clima do planeta, embora isso seja extremamente importante.


Na verdade, para descrever o quanto as florestas são importantes de forma precisa, seria necessário muito, mas muito mais espaço do que o aqui disponibilizado, de modo que o que vem a seguir é apenas um resumo muito breve das potencialidades florestais com enormes chances de omitir fatos muito relevantes. Começando com uma abordagem histórica, o Brasil por acaso tem esse nome por causa de uma árvore, que diga-se de passagem, foi símbolo de riqueza aqui e na Europa nos primórdios de nossa colonização. Curioso lembrar que isso contrasta com a ideia de que floresta é sinônimo de pobreza. Desde nosso descobrimento, nosso patrimônio florestal foi violentamente dilapidado a ponto de um dos mais importantes biomas do planeta, no caso a Mata Atlântica, ter sido reduzida a menos de 10% em relação ao que originalmente nós tínhamos. Aqui uma outra contradição, na medida em que a retirada da floresta nem de longe foi sinônimo de prosperidade para o país. Considerando que nossa população ocupou desde a colonização até os dias atuais especialmente a costa atlântica, justamente onde havia as florestas, é razoável dizer que existe muito mais pessoas em condições de pobreza do que de riqueza nessas regiões, com enormes problemas sociais a serem superados.


Com base nestas afirmações iniciais, já é possível pensar que relacionar floresta com pobreza é um falso dilema, uma vez que o sucesso das organizações sociais humanas depende muito mais do elemento humano e de suas ações do que da presença ou ausência de florestas. Excelentes contra-exemplos da tese de que floresta é sinônimo de pobreza são países como a Finlândia, Suécia, Japão e Coreia do Sul. Nestes países, proporcionalmente, há mais florestas que no Brasil (73% do território da Finlândia é coberto por florestas, 69% na Suécia, 68% do Japão e 63% da Coréia do Sul. No Brasil se estima que 59% do território esteja ocupado por florestas, e diminuindo....). Note que os países mencionados têm uma proporção de florestas maior que a nossa, e, no entanto, têm um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) muito superior ao nosso. A Finlândia, por exemplo, recentemente ganhou o título de “país mais feliz do mundo”. Em função do exposto, creio que seja muito ruim fomentar a ideia de que a humanidade e a floresta estão em lados opostos, muito pelo contrário, ambos podem se beneficiar mutualmente em uma relação construtiva e racional, e para que isso aconteça, existe inclusive um ramo da ciência dedicado a isso que se chama “Engenharia Florestal” (esta é uma outra longa e bela história).


De volta ao que se dizia, por que as florestas são tão importantes? Além de dar nome ao nosso país, da floresta se extrai a madeira, que permite produzir uma variedade de coisas, incluindo, energia, papel e tecidos. Mas da floresta também se extrai uma variedade de alimentos, como Açaí, Cupuaçu, diversas castanhas, entre outros. Também da floresta se pode extrair diversos óleos e resinas, como a seringueira, e diversos fármacos e produtos cosméticos. A floresta também presta diversos serviços ambientais e representa bens intangíveis, como a beleza cênica. De tudo isso se percebe que as florestas têm forte impacto econômico movimentando diversas cadeias produtivas e muitas outras que estão por vir (há muito o que se descobrir de potencial econômico advindo das florestas). Um exemplo fantástico de sucesso econômico é a cadeia de Açaí, que começou como um processo extrativista despretensioso e se transformou em uma cadeia de milhões de dólares (esta também é outra bela história). Mas a floresta também tem fortíssima importância ecológica. A floresta amazônica, por exemplo, é uma das maiores fontes de biodiversidade no mundo, assim como é o que ainda resta da mata atlântica. Isto é fundamental para o equilíbrio do planeta. Para ilustrar esta afirmação, basta pensar que toda vez que nós eliminamos uma área florestal, nós interferimos no equilíbrio entre as espécies, e desse desequilíbrio pode surgir uma série de pragas e doenças, como a COVID, por exemplo.


As florestas também são fundamentais para a produção de água potável. É isso mesmo, a água pode ser produzida e as florestas são fundamentais para isso. As árvores são importantes agentes de infiltração de água no solo, abastecendo o lençol freático que vão dar origem às nascentes que vão dar origem aos rios. Além disso, as florestas são um importante componente do ciclo hidrológico, tendo forte influência no regime de chuvas. O exemplo mais marcante a esse respeito são as florestas amazônicas. As chuvas da região sudeste, região mais rica do país, assim como todo sucesso do nosso agronegócio não aconteceria se não fosse o fato dessas florestas influenciarem tão positivamente nosso regime de chuvas. Verdadeiros rios voadores se formam na região amazônica e levam umidade para outras regiões do país. Uma descoberta científica relativamente recente e que é objeto de estudo do Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazon (LBA), demonstrou que existem mecanismos complexos como o da formação de nuvens e chuvas na Amazônia. De todo modo, ficou comprovado que as árvores emitem Compostos orgânicos Voláteis (COV) que, de forma bem simplista, são capazes de provocar a condensação de nuvens que irão se converter em chuva. Estima-se que este processo pode influenciar de 20 a 30% na pluviosidade da região. Esta descoberta é algo fantástico, pois há algum tempo atrás se acreditava que apenas a floresta dependia do clima e não havia uma mão dupla. Agora se sabe, com mais clareza, que da mesma maneira que o clima influencia a vegetação florestal, a vegetação também tem uma relevante influência no clima.


A despeito de todo o processo científico e de suas descobertas, para os leigos cabe questionar: água para beber, tomar banho, cozinhar e fazer tantas outras coisas é importante? Se a resposta for sim, as florestas serão igualmente importantes, pois não há produção de água sem floresta.  E quanto ao aquecimento global? Por que neste caso as florestas são importantes? Simplificando bastante a questão, o famoso efeito estufa acontece pelo aumento da concentração de carbono na nossa atmosfera, principalmente depois da revolução industrial. Gases ricos em carbono formam uma camada (uma espécie de estufa) que impede que a energia do sol refletida pela superfície da terra na forma de calor consiga escapar para o espaço. Com isso, as temperaturas tendem a aumentar causando grandes impactos globais. Por outro lado, as árvores, ao realizar fotossíntese (processo que retira carbono do ar e o torna imóvel na planta na forma de biomassa), por serem seres vivos de grande porte, são os vegetais mais eficientes na retirada de carbono da atmosfera.


Para que se tenha ideia, árvores são indivíduos lenhosos e da composição do tronco de uma árvore, aproximadamente 50% é carbono. Pode-se dizer então que as florestas são a maneira mais eficiente de frear o aumento do carbono na atmosfera, impedindo ou mitigando tragédias climáticas que já estão acontecendo. Interessante pensar que todos querem ser ricos, e isso implica em grande consumo energético. Uma família que consome 400 watts de energia por mês e que anda 20 km de carro e produz 800 gramas de lixo por dia, estima-se que ela precisaria plantar 12 árvores por ano para equilibrar sua ação poluidora. Para encerrar, estima-se também que uma pessoa consuma durante sua vida aproximadamente 267 árvores, começando pelo berço de madeira, passando por diversos produtos, como o piso e o telhado da casa, todo o papel que vai usar, incluindo o higiênico. Quando ela morrer, se tiver sorte, será enterrada em um caixão de madeira. Curioso pensar naqueles que falam em riqueza e desprezam a importância das florestas. Lembra muito alguém que adora comer carne, mas não suporta a ideia de que animais precisam ser sacrificados por isso.  



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