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“Não olhe para cima” – uma discussão sobre ciência e negacionismo.

Cláudia Chaves Martins Jorge • dez. 27, 2021

O filme “Não olhe para cima” estreou na Netflix Brasil¹ no dia 24 de dezembro. A história, que tem um elenco de peso, conta a descoberta de um cometa orbitando dentro do sistema solar em rota de colisão direta com a Terra. Os cientistas, Randall Mindy, interpretado por Leonardo DiCaprio e Kate Dibiasky, interpretada por Jennifer Lawrence, no intuito de evitar a colisão que dizimará a vida na terra, buscam ajuda das autoridades para interromper a trajetória do cometa. Convidados a ir para Washington, a viagem se dá em um avião de carga sem qualquer tipo de conforto, e esta é apenas uma prévia dos desafios que esses dois astrônomos ainda enfrentarão. O primeiro compromisso dos cientistas é falar com a Presidente dos Estados Unidos Janie Orlean, interpretada pela atriz Meryl Streep. Depois de aguardarem muito para serem atendidos, eles encaram outra situação bizarra ao comprarem um lanche vendido por um militar de alta patente ligado ao Governo. Esse evento se torna um drama pessoal e moral para a cientista Kate ao descobrir que os lanches, dentro da Casa Branca, são distribuídos gratuitamente.


Quando finalmente conseguem ser atendidos, os cientistas sentem-se imensamente frustrados, pois se deparam com uma Presidente que só preocupa em manter as aparências do cargo e que tem seu próprio filho como Chefe de Gabinete. Jason Orlean, interpretado pelo ator Jonah Hill, é um jovem completamente despreparado, imaturo, dependente da mãe-presidente e alheio às responsabilidades, mas deslumbrado com o cargo.  O perigo da situação relatada pelos cientistas é desconsiderado, aliás, tanto a Presidente quanto seu filho riem da história e parecem mesmo acreditar que se ignorarem o problema, ele se resolverá magicamente. Os cientistas perceberam que nada conseguirão ali e acabam em um programa de TV onde também são ironizados e ridicularizados. A cientista kate, nervosa pela forma como são tratados pelos apresentadores, acaba descontrolando-se emocionalmente e vira “meme” na internet, ou seja, de nada adiantou estarem ali.


O Filme prossegue, posteriormente os dados da colisão são confirmados por outros cientistas e finalmente é organizada uma expedição para tentar destruir o cometa. O lançamento foi um sucesso, mas logo em seguida a missão é abortada por orientação de um empresário, que investe em tecnologias e robôs. No filme, ele é um grande financiador da campanha eleitoral da presidente e descobriu que no cometa existem metais preciosos, e seria economicamente interessante que parte do cometa caísse na terra. Segundo suas explicações, mudaria totalmente o conceito de pobreza e riqueza. Talvez esse empresário seja uma caricatura de investidores em viagens espaciais.


O enredo do filme seria bem absurdo se fosse há uns anos atrás, mas agora se mostrou bem realista. Primeiramente, porque a figura impoluta e competente do Presidente dos Estados Unidos foi substituída por alguém despreparado para assumir o cargo, quebrando o paradigma de que a figura do presidente é alguém que sabe e pode tudo. Sutilmente, a corrupção também foi mostrada dentro da Casa Branca na figura de um militar que vende, aos desavisados, lanches que são distribuídos gratuitamente aos visitantes ou convidados. Sem contar com os estereótipos dos ocupantes de altos cargos no governo e dos apresentadores de TV que se preocupam muito mais com as fofocas da vida pessoal das celebridades do que com os assuntos que, de fato, impactam na vida da população. A temática do filme mostra claramente a luta entre a ciência, a política e os negacionistas e a população completamente perdida no meio de tudo isso. Porém, esta “realidade” não é tão distante, pois no Brasil, desde o início da pandemia, a luta entre a ciência e os negacionistas tem dividido opiniões, principalmente da população menos esclarecida, que se informa por meio de notícias veiculadas por WhatsApp ou redes sociais.


Quando iniciaram as pesquisas de vacinas para o combate ao Coronavirus, muitas informações equivocadas se espalharam rapidamente, contrariando os dados cientificamente comprovados pelos pesquisadores de institutos renomados dentro e fora do Brasil. A falta de confiança na vacina cresceu entre a população brasileira e também em vários outros países. Mas, a eficácia das vacinas foi comprovada e reduziu drasticamente o número de mortes entre a população imunizada. Segundo dados da CNN Brasil³, 8 em cada 10 mortos por Covid no Brasil são de pessoas não vacinadas, ou seja, os dados da eficácia das vacinas estão comprovados pela ciência. Na Europa, medidas restritivas precisaram ser adotadas para os não vacinados4. Segundo dados da BBC Brasil5, mais de 5 milhões de crianças com idades entre 5 e 11 anos foram vacinadas nos Estados Unidos e em outros países. Mas, na contramão da ciência, a vacinação de crianças desta faixa etária segue indefinida no Brasil. Aliás, o Ministro da Saúde, que é médico, abriu uma consulta pública6 sobre o tema. A primeira pergunta é: “Você concorda com a vacinação em crianças de 5 a 11 anos de forma não compulsória conforme propõe o Ministério da Saúde?” com as opões “sim” ou “não” para serem assinaladas. Porém, ao se analisar as perguntas, é possível afirmar que boa parte da população não conseguirá interpretar as perguntas para respondê-las corretamente.


Voltando ao filme, quando todas as missões de explodir o cometa falharam e as autoridades perceberam que o fim era inevitável, alguns privilegiados se juntaram ao tal empresário que mandou abortar a primeira missão e fugiram para outro planeta. Ao chegarem neste novo lugar, completamente nus e sem qualquer tipo de organização, depararam-se com outras espécies animais que os viam apenas como alimento. Pareciam acreditar que a conta bancária e o prestígio que possuíam na Terra os manteriam vivos e em segurança. Aliás, o despreparo da Presidente foi sentido até em sua fuga para outro planeta, já que ela esqueceu o próprio filho para trás.


Qual a correlação do momento pandêmico com o filme? Total, aliás, o nome do filme era um grito de guerra dos negacionistas, como ‘não olhar para cima’ quando o perigo viria exatamente de cima? Os cientistas do filme chegaram a ser ameaçados, tirados de circulação como se eles fossem os errados de toda esta história. Aqui no Brasil não tem sido diferente, funcionários da Anvisa tiveram que pedir proteção policial após receberem mais de 150 e-mails com ameaças pela aprovação de vacinas contra Covid para crianças de 5 a 11 anos7.  Como ignorar dados científicos e transferir para a população a consulta de uma situação que pode salvar a vida de muitas crianças? Segundo dados da National Geographic Brasil8, “baixos índices de vacinação podem propiciar uma evolução mais acelerada do vírus que causa a covid-19 e, assim, talvez produzir uma variante mais transmissível ou resistente a anticorpos capaz de agravar a pandemia.” Ou seja, abrir uma consulta popular nesse caso, é ignorar a ciência.


O filme mostrou que a humanidade pagou, com a vida, pelo despreparo de um governo que foi avisado do que iria acontecer, que teria como intervir para salvar vidas e nada fez, e pela ambição de um empresário que viu, na crise, uma grande oportunidade de aumentar ainda mais sua fortuna.  O problema é que esta ficção tem se tornado uma realidade em muitos países...


Referências:


¹https://www.netflix.com/br/title/81252357

²https://www.paho.org/pt/vacinas-contra-covid-19/perguntas-frequentes-vacinas-contra-covid-19

³https://www.cnnbrasil.com.br/saude/oito-a-cada-dez-mortos-por-covid-19-nao-sao-vacinados-no-brasil/

4https://www.cnnbrasil.com.br/saude/pandemia-dos-nao-vacinados-na-europa-preocupa-fiocruz/

5https://www.bbc.com/portuguese/geral-59757768

6https://www.gov.br/participamaisbrasil/opine

7https://congressoemfoco.uol.com.br/temas/direitos-humanos/servidores-da-anvisa-receberam-mais-de-150-ameacas-por-email/

8https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/2021/11/coronavirus-vacina-covid-19-pandemia-mutacao-variante-omicron




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