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A Pirâmide de Maslow e a “mobilidade” social no Brasil.

Cláudia Chaves Martins Jorge • abr. 06, 2021

Por Cláudia Chaves Martins Jorge


Abraham Harold Maslow¹ foi um psicólogo americano falecido em 1970. Graduado em Direito, passou a se interessar pela psicologia área de atuação na qual se tornou Mestre e posteriormente Doutor. Dentre suas pesquisas, ficou mundialmente conhecido pela Teoria da motivação humana que recebeu o nome de Pirâmide de Maslow, publicada em 1954 no livro Theory of Human Motivation². Esta teoria é utilizada até hoje por empresas de marketing e vendas, e largamente aplicada na área de gestão de pessoas e estratégias para auxiliar as empresas a entenderem o comportamento dos consumidores.


A pirâmide de Maslow possui 5 degraus – a base é formada pelas necessidades fisiológicas básicas de qualquer ser humano: respirar, tomar água, comer, ter um lugar para morar, dormir e roupas para vestir. O segundo degrau é formado pelas necessidades de segurança, do próprio corpo em relação à violência ou acidente, um senso de autoproteção, tendo espaço para um plano de saúde, por exemplo; no mesmo degrau estão a segurança no trabalho, na renda e no patrimônio adquirido. No terceiro degrau estão as necessidades sociais como os relacionamentos amorosos e afetivos, pertencimento a grupos de amigos, interação com colegas de trabalho e familiares. No quarto degrau estão as necessidades de autoestima, a relação consigo mesmo, o autorreconhecimento das próprias habilidades, além da busca de reconhecimento pelos demais. No quinto degrau está a realização pessoal, onde já se é capaz de ter independência financeira, controle emocional e afetivo e autoconhecimento, visando um crescimento pessoal e a exploração do lado intelectual. Atualmente, já se fala no sexto degrau, composto pelo lado espiritual, como bem aponta os estudos do Professor Hélio Couto³.


A teoria de Maslow tem sido aplicada pelas empresas para definir o perfil de seus consumidores. A empresa que produz para o público do 5º degrau por exemplo, trabalhará com as sofisticações deste cliente, com foco no crescimento pessoal e intelectual, tendo a certeza de que todas as outras necessidades dele já estão supridas. Então, a imagem trabalhada para atingir este público é de alguém bem-sucedido, que preza por qualidade, sofisticação e crescimento. Em compensação, as empresas que trabalham para o público da base, ou seja, aqueles que se preocupam com as necessidades básicas do dia a dia, trabalharão com produtos de baixo custo levando em conta o custo-benefício.


Esta teoria de Maslow, apesar de explorada na área empresarial, pode ser aplicada em tudo, inclusive pelo governo, ao definir seus apoiadores, o conteúdo de seus discursos e as diretrizes de seu plano de governo. Quando as pessoas estão na luta pela sobrevivência, pensando em como se alimentar, onde morar e como pagar suas contas básicas, essa grande massa dificilmente tem acesso aos degraus superiores da pirâmide, e chegar ao quinto degrau é visto como algo inatingível. Com isso, as promessas feitas pelos governantes de serem capazes de conceder às pessoas uma condição de vida melhor, de garantir a elas a subsistência do mínimo que seja, são facilmente recepcionadas e aquele político passa a ser o “salvador da pátria”, mesmo que este “salvador” represente a classe dominante e opressora.


Pode-se dizer que poucos brasileiros vivem plenamente cada degrau desta pirâmide. Segundo informações apresentadas pela BBC5 o número de pessoas vivendo em extrema pobreza no Brasil, caiu 64% entre os anos de 2001 a 2013 de acordo com dados do Banco Mundial. Com mais acesso a trabalho e renda, a qualidade de vida das pessoas melhorou muito. Segundo uma reportagem de 2008 da Isto é6, o Brasil se descobriu como classe média, a chamada classe emergente, surgindo assim um perfil de novos consumidores. A classe média começou então a subir os degraus da pirâmide, a ter acesso a bens duráveis, a viajar para o exterior, a créditos para compra de imóveis e veículos, colocaram seus filhos em escolas particulares, passaram a se preocupar com o futuro educacional dos filhos e a usar roupas e acessórios criados para atender a este público específico. Porém, quando esta classe de trabalhadores atingiu um maior patamar financeiro, passou a reproduzir exatamente o perfil dos dominantes, sentindo-se da elite, passando então a defender valores tradicionalistas da sociedade, como se jamais tivessem sido “trabalhadores/batalhadores”.


No Brasil de agora, diante da instabilidade econômica que assola o país, o número de desempregados cresceu, o número de empregos diminuiu pelo fechamento de postos de trabalho e o constante aumento dos preços fez com que o poder de compra das pessoas diminuísse muito. Este cenário ficou ainda pior em razão da pandemia e por conta disso, mais uma vez as pessoas voltaram o foco para a base da pirâmide, pagar o financiamento do imóvel, o financiamento do carro, parcelar a fatura do cartão de crédito e cortar gastos no que é possível, sem deixar transparecer para as pessoas e sem perder muito a “qualidade” de vida.


É inegável que cada pessoa mantém a atenção em suas necessidades, com isso, é praticamente impossível pedir a alguém que esteja passando fome, que não sabe onde dormir, que não consegue tomar banho há dias que vá assistir uma palestra de autoajuda, a menos que seja oferecido um lanche antes do início da palestra e que esta informação esteja bem visível na divulgação do convite. Mesmo que sejam apresentados todos os benefícios que essa pessoa terá ao participar desta palestra; que lhe serão passadas dicas preciosas de como conseguir trabalho, gerenciar melhor seu tempo, adquirir um ritmo de vida saudável e estabelecer objetivos na vida, ainda assim, o foco dela, com muita razão, é apenas o saciar a fome.


Quanto mais pessoas, na base da pirâmide, preocupadas com as necessidades fisiológicas básicas, mais distantes se tornam do 5º degrau. O brasileiro parece viver uma mistura muito peculiar de todos os degraus e a forma de divisão das classes sociais, causa ainda mais confusão. Segundo o economista César Esperandio7, em um artigo publicado em setembro de 2020, as classes sociais no Brasil são assim definidas: pertencem à classe “E” com o salário mínimo referência de 2020, no valor de R$ 1.045, aqueles cuja soma de todos os rendimentos da família cheguem até R$ 2.090. Na classe D, estão as famílias que têm rendimentos entre dois e quatro salários mínimos, ou seja, a renda da família está entre R$ 2.090,01 a R$ 4.180,00. Na classe C, estão as famílias com rendimentos entre quatro a dez salários mínimos, cujos rendimentos estejam acima de R$ 4.180, mas não ultrapassem R$ 10.450. As famílias da classe B são as que têm rendimentos entre 10 a 20 salários mínimos, que ganham entre R$ 10.450,01 a R$ 20.900. E os mais ricos do Brasil, que estão na classe A.


As 10 pessoas mais ricas do Brasil8 em 2021 são: Jorge Paulo Lemann, com fortuna estimada em 10,4 bilhões de dólares; Eduardo Saverin, com fortuna estimada em 8,4 bilhões de dólares; Marcel Herrmann Telles, com fortuna estimada em 6,5 bilhões de dólares; Carlos Alberto Sicupira, com fortuna estimada 4,8 bilhões de dólares; Alexandre Behring, com fortuna estimada 4,3 bilhões de dólares; Luciano Hang, com fortuna estimada em: 3,6 bilhões de dólares; Dulce Pugliese é a mulher mais rica do Brasil, com fortuna estimada em 3,5 bilhões de dólares; Miguel Krigsner, com fortuna estimada 3,4 bilhões de dólares; André Esteves, com fortuna estimada 2,9 bilhões de dólares e Abilio dos Santos Diniz, com fortuna estimada em 2020: 2,3 bilhões de dólares. De posse destes números, pode-se concluir que as pessoas que financiaram seus imóveis em 20 anos, o carro em 60 meses e as roupas que vestem em oito vezes no cartão de crédito, que têm um plano de saúde coparticipativo com internação em enfermaria estão, aparentemente no terceiro degrau, mas não saíram das preocupações do 1º degrau da pirâmide.


Em uma pesquisa divulgada pela revista Exame de Janeiro/2014 no Brasil, existiam 194 mil pessoas com patrimônio de mais de um milhão, e a estimativa era que se chegasse a 271 milionários até 2016. Ainda segundo a revista, a expectativa era que o número de milionários no Brasil crescesse 8,9% em 2014, chegando a atingir o patamar 17000 novos milionários somente em 2014. Os motivos pelos quais as pessoas se tornam milionárias são os mais variados possíveis. Umas poucas exceções ganharam prêmios em loterias, alguns dos atuais novos milionários são frutos das redes sociais onde tiveram milhares de acessos e ganharam a mídia e a fama. No entanto, boa parte destas pessoas estão inseridas em um novo contexto social, mas empiricamente descontextualizadas, diante do capital cultural que as pessoas das classes A e B trazem em sua trajetória de vida. Aqueles classificados como pertencentes à alta classe tiveram em sua formação um conhecimento pautado na vivência. Viagens internacionais, aprendizado de um segundo, terceiro ou quarto idiomas, acesso a esporte, informação, negociações, investimentos tudo é inserido no cotidiano destas pessoas, de forma natural, diferentemente do que ocorre com aqueles que somente terão acesso a tudo isto, quando melhoram economicamente de situação.


No Brasil, partindo-se da ideia da mobilidade social e acesso aos degraus mais altos da pirâmide, é preciso muito mais que aumento de renda para se acabar com a desigualdade. O aumento de renda por si só, não garante informação ou formação que assegure às pessoas a permanência ou a inclusão numa classe mais abastada financeiramente. Não há investimento na independência intelectual das pessoas, muitos se informam por notícias de WhatsApp ou Facebook sem ter o trabalho de verificar se é verdadeiro ou não o conteúdo passado ali. São incapazes de ler um livro inteiro, ler jornais ou assistir noticiários para formar a própria opinião que garanta argumentos para discutir assuntos de economia e política.


A classe média está inserida entre a elite, modelo referencial que dita padrões, e o pobre, que é desprezado, mas não pode ser desconsiderado enquanto consumidor e também base da economia. Porém, o que não se pode esquecer é que existe um espesso limiar que separa quem, de fato, detém o poder econômico e o capital cultural e os demais. É importante esclarecer que o 5º degrau da pirâmide só é alcançado quando se consegue ter independência intelectual, enquanto não se consegue isso, tem-se apenas massas de manobra e difusores de ideologias que atendam a interesses de outros, simples assim.


Referências:


¹https://www.ebiografia.com/abraham_maslow/

2https://pdfs.semanticscholar.org/799e/de7676bbb166a33d61ae108436c4eb08c419.pdf?_ga=2.267451211.45146282.1617659605-1456877513.1617544238

³https://www.youtube.com/watch?v=Hv7ay4_aunw

4https://www.worldbank.org/pt/country/brazil/overview

5https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151009_reducao_pobreza_banco_mundial_ac_lgb

6https://istoe.com.br/9800_CLASSE+MEDIA+EMERGENTE/#:~:text=Os%20n%C3%Bameros%20apontam%3A%20o%20Brasil,51%2C9%25%20do%20total

7https://economia.uol.com.br/colunas/econoweek/2020/09/25/classe-a-b-ou-c.htm

8https://www.ebiografia.com/pessoas_mais_ricas_do_brasil


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