O impacto da opinião no direcionamento da administração pública.

Claudia Chaves Martins Jorge e Sidney Geraldo Jorge • 25 de agosto de 2022

A palavra “opinião” tem várias acepções. De acordo com o Dicionário Michaelis¹, pode ser usada no sentido de: ponto de vista, modo de pensar e ver, parecer, juízo de valor, consenso, teimosia, pretensão, vaidade e ainda como expressão – “opinião pública” – por exemplo. Com esse objetivo, o “Lugar de Opinião” foi idealizado há dois anos para acolher a todos os significados da palavra “Opinião”.

Em um cenário voltado a conteúdos de imagens e vídeos, nasce o “Lugar de Opinião”, dedicado a produção de textos. Sem dúvida, um sinal de resiliência. Propor um espaço para leitura nesse contexto, dá a sensação de nadar contra a maré, pois os olhares do consumismo estão fixados, em grande parte, nas redes sociais. O consumo de conteúdos pela internet é extremo, mas qual o resultado disso? Não se sabe... porém, tem-se visto muito a nivelação, por baixo, nas veiculações de crenças e ideologias tentando convencer de que a “minha solução é a melhor” e que “eu descobri o melhor método e vou te ensinar se você se matricular no meu curso”. Inúmeras vezes é possível escutar: “eu já sei isso porque aprendi em um vídeo...” O certo é que há um desafio em se romper essa bolha envolta pela virtualidade e fazer com que as pessoas se interessem mais pela busca de informações através da leitura de textos.


A “opinião” também está a serviço da ciência que se vale de dados estatísticos para apresentar uma resposta. Como exemplo, as pesquisas “de opinião” são usadas como termômetro de situações e igualmente capazes de mudar o rumo da política de um país. No exercício do mandato de um Presidente, por exemplo, várias pesquisas são realizadas para saber a “opinião” das pessoas sobre o Governo. No entanto, o método utilizado deve, ou pelo menos deveria, ser imparcial e não tendencioso, pois se é capaz de “produzir” uma “opinião pública”, já que os fatos na esfera pública podem ser manipulados e a opinião, verdadeira sobre o fato, não ser pública ou passar a ser protegida por um sigilo para que não se torne pública.


Segundo Habermas²:

 “O sistema político assegura o consentimento da população tanto por via positiva quanto seletiva; positivamente capitalizando as expectativas de cumprimento dos programas próprios do Estado Social; seletivamente excluindo determinados assuntos da discussão pública. E isso pode ser feito por meio de filtros estruturais no acesso à esfera da opinião pública-política, por meio de deformações burocráticas das estruturas da comunicação pública, ou por meio de um controle manipulativo dos fluxos de informações.” (HABERMAS, 1997, p.489)


A manipulação da “opinião pública” é bastante perigosa e atente aos interesses de determinado grupo. Ainda segundo Habermas³: “Desenvolvem-se as técnicas de publicidade e relações públicas, através das quais grandes empresas capitalistas passa a trabalhar a ‘opinião pública’ e têm como tarefa central a construção do consenso e de uma opinião pública encenada. Mas consenso fabricado não é opinião pública.” (HABERMAS, 1984, p.229)


Para os filósofos da antiguidade a opinião não significava conhecimento por distanciar-se da verdade do conhecimento. E agora? O que fazer se a sociedade está envolvida por uma redoma de puras opiniões, consequência dos inúmeros aparatos tecnológicos físicos e virtuais que despejam, em segundos, toneladas de opiniões mundo afora? As opiniões sempre existiram, se limitando a grupos específicos. Para uma opinião se expandir e chegar ao alcance mais global necessitava de certo tempo e muitas se perdiam no itinerário. Agora é diferente, basta um clique e ela pertence ao universo, disputando com outras o espaço dos aparelhos ligados à internet até chegar ao usuário ou consumidor de opiniões.  Entretanto, uma opinião pode até virar conhecimento se testada, fundamentada, e resistir à experimentação.


Atualmente, o Brasil vive o período de eleições para presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais e a opinião virou fonte de pesquisas da intenção de votos do eleitor. Diversas opiniões são registradas tornando estatísticas nas empresas especializadas em recorrer às opiniões dos eleitores como ferramentas para seu trabalho. As pesquisas sempre apontam uma margem de erro uma vez que opiniões podem mudar. Entretanto, há tempos que a maioria das pesquisas acertam o possível resultado da eleição. A pesquisa deve ser registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), percebe-se, dessa maneira a importância e responsabilidade dos institutos de pesquisas em veicular informações críveis.

 

Nesse momento, não há dúvidas do significado da “opinião” em estabelecer os parâmetros de determinada administração pública. Significa que a “opinião pública”, instrumento das pesquisas eleitorais e, consequentemente materializada através do voto, tem o real poder de interferência na escolha do projeto de governo a administrar um país, estado ou cidade, direcionando os rumos da coisa pública. Ora, há que se reconhecer o grau de relevância da opinião, indubitavelmente, a pública. Ao escolher um projeto que nega a ciência, que negligencia projetos educacionais, esportivos, culturais, o progresso, o desenvolvimento, a “opinião” também será afetada com o empobrecimento das possibilidades de geração de conhecimento. Entretanto, ao escolher projetos desenvolvimentistas, de investimentos em educação, saúde, cultura, esportes, de inclusão social, combate à fome e à pobreza, com certeza haverá reflexos nas opiniões fazendo-as mais atentas às prioridades da nação para que a população seja melhor preparada em emitir assertivamente suas opiniões.



*Este artigo celebra os dois anos de existência do  "Lugar de opinião".

 

REFERÊNCIAS:

 

¹https://michaelis.uol.com.br/busca?r=0&f=0&t=0&palavra=opini%C3%A3o

²HABERMAS, Jünger. Direito e Democracia: entre a facticidade e validade. Volumes I e II. Tradução: Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro.: Tempo Brasiliense, 1997.

³HABERMAS, Jünger. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro: Biblioteca Tempo Universitário. 1984.


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