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A urgência de investimentos em Capital Humano no Brasil

Cláudia Chaves • jul. 21, 2022

A urgência de investimentos em Capital Humano no Brasil

“O Brasil perdeu 10 anos de progresso em índice de Capital Humano¹”, essa triste afirmativa é do “Relatório de Capital Humano Brasileiro - Investindo nas Pessoas²” de 2022, documento que faz uma estimativa da perda ou acúmulo de habilidades pelos indivíduos com idades até 18 anos. Um documento de 265 páginas que apresenta, minuciosamente, a triste constatação da realidade brasileira ao medir o ICH (Índice de Capital Humano). De acordo com o relatório, a razão para essa perda está na crise sanitária, econômica e educacional dos últimos dois anos. O relatório não só apresenta os problemas, mas também caminhos para a solução de forma a garantir a permanência de crianças e adolescentes na escola, fortalecimento do sistema público de saúde e de programas de renda como o antigo Bolsa Família, agora rebatizado de Auxilio Brasil. Mas, o que se entende por capital humano? É o conjunto de competências, conhecimentos e habilidades de um indivíduo.



O relatório inicia contando a história de talentos desperdiçados que esbarram numa série de dificuldades, preconceitos e julgamentos. Os nomes fictícios de João e Bela são usados para contar a realidade de milhares de brasileiros. João é um morador de rua que desenha retratos com perfeição, mesmo sem materiais adequados, recebe elogios e a admiração das pessoas que não conseguem explicar de onde vem tanto talento de uma pessoa com a “barriga vazia”. Bela é uma mulher negra, que conseguiu se graduar em engenharia, e é um exemplo para seus irmãos mais novos. Bela continua em busca de alguma oportunidade no mercado de trabalho, mas já está cansada de ouvir sempre as mesmas respostas para excluí-la de alguma forma dos processos seletivos que participa. Essas pessoas (João, Bela e tantos outros) têm muito a oferecer, mas esbarram em uma série de empecilhos, principalmente o de alcançar e desenvolver todo o potencial que têm.



Este relatório tem por objetivo alertar os governos sobre a importância de investir nas pessoas e faz ainda um importante questionamento: “o que aconteceria com a produtividade do trabalho se o Brasil oferecesse educação e saúde de qualidade a todas as crianças, em todas as partes do país? Como reduzir as lacunas entre as circunstâncias ideais e o que de fato ocorre?” Pois é, no Brasil, o ideal está a anos luz do real. As escolas, principalmente as públicas, também estão muito distantes do que deveriam ser. Poucas são as que têm recursos tecnológicos para as aulas serem mais atrativas. Em boa parte das escolas públicas, as aulas acontecem nos tradicionais quadros verde e giz; em outras, se tem quadro branco com pincel, mas a reposição da tinta do cartucho costuma ser um obstáculo a ser vencido, e o professor se vê obrigado a comprar, ele mesmo, o cartucho e os pinceis de várias cores para ilustrar melhor as aulas, quem é professor conhece bem essa realidade. Ter uma lousa digital é quase impossível, o comum é que o uso do único data show da escola seja agendado com bastante antecedência. E se no dia da sua aula tiver um outro evento na escola que precise do data show, sua aula, mesmo que já programada, terá que acontecer no modelo tradicional mesmo. 



No entanto, apesar das dificuldades, inúmeros talentos surgem todos os dias. Mas, falta investimentos, espaços adequados nas escolas e, principalmente, interesse do Governo no incentivo e aprimoramento da educação, prática de esportes e fomento da pesquisa. O que tem-se visto, nos últimos anos, é a retirada de verbas das universidades, cancelamentos de bolsas de pesquisa e tentativa de militarização das escolas. Alguns estados, como Minas Gerais, por exemplo, tem o projeto de ensino integral, porém, não basta que o projeto seja bonito no papel, ele precisa ser executado de forma eficiente, pois a escola deve propiciar ao aluno um ambiente adequado para todas as atividades a que se propõe. E, infelizmente, em muitos casos, as escolas não têm esse ambiente, os espaços mal comportam o número de alunos. Até mesmo as carteiras das salas de aula não são adequadas, são antigas, quebradas e totalmente desconfortáveis até mesmo para o tempo normal de aula.



O ICH (Índice de Capital Humano) é prospectivo e visa estimar a produtividade esperada de uma criança nascida hoje, ao atingir 18 anos de idade. Claro que o ambiente e as condições de desenvolvimento dessa criança são fatores preponderantes. Mas esse estudo contribui para a definição de políticas públicas. De acordo com o relatório, medir o ICH é simples pois considera aspectos que influenciam na formação de habilidades. Os dados apresentados pelo Relatório são alarmantes, pois mostra um cenário de desigualdades e muitos “Brasis”, lamentavelmente, crianças nascidas em municípios da região norte e nordeste desenvolvem, aproximadamente, metade de todo o seu potencial, ou seja, “10 pontos percentuais a menos que uma criança típica do Sudeste.” Ainda de acordo com o relatório, se o ICH mantiver a mesma trajetória observada, o Brasil levará aproximadamente 60 anos para atingir os patamares de capital humano alcançados por países desenvolvidos já em 2019. É um prognóstico desesperador. O relatório também analisa fatores como: gênero e raça, onde se constatou que as mulheres acumulam mais ICH que os homens aos 18 anos de idade. Por outro lado, o ICH de pessoas brancas aumentou em ritmo mais acelerado em relação a qualquer outro grupo racial. No quesito “mercado de trabalho”, o Brasil perde 22 pontos percentuais da produtividade alcançada. E a mulher afrodescendente sofre duplamente, pela questão de gênero (mulher) e pela raça (cor).



Quando se fala em educação, o relatório apresenta a estimativa de que aproximadamente um milhão de crianças não desenvolveu competências básicas de alfabetização e traz informações alarmantes de que os dois anos de pandemia reverteu o equivalente a uma década de ICH voltando a patamares de 2009, ou seja, “uma década perdida”. Em alguns estados como Roraima, São Paulo, Goiás e Pernambuco a situação foi ainda pior e o ICH regrediu ao ano de 2007. O prognóstico para o Brasil é muito preocupante, e a estimativa é que o país alcançará o mesmo índice de ICH do ano de 2019, somente no ano 2035. Diante desse resultado, é preciso se fazer um sério investimento em educação, mas na educação como um todo, inclusive nos professores. A título exemplificativo, um aluno que no início da pandemia em 2019 estava no primeiro ano do ensino médio, passou a maioria do tempo do seu curso com aulas à distância e, quando retornou, já no terceiro ano, se viu inserido e cobrado como se tivesse absorvido todo o conhecimento desse período. Porém, a realidade da sala de aula se mostrou muito diferente, os alunos retornaram à escola, dois anos depois, com um déficit de aprendizado, totalmente desacostumados da rotina em sala de aula. Falar em “novo normal” é uma maneira de desconsiderar a realidade, tem-se o novo, porque o normal terá que ser construído.



O Brasil, se quiser recuperar, de fato, o tempo perdido, terá que investir seriamente na educação e na saúde mental de alunos e professores e ter, como prioridade nº 1, a recuperação e aceleração da aprendizagem. Como bem aponta o relatório, aluno desmotivado não aprende, mas, por outro lado, o professor sem os recursos mínimos, também não consegue competir com os celulares e a internet. Os recursos tecnológicos foram usados durante a pandemia para as aulas à distância, então, estes mesmos recursos devem ser usados para tornar as aulas mais atrativas aos alunos. Por fim, como bem concluiu o relatório, o importante agora é: “fortalecer a aprendizagem híbrida, ampliar a conectividade à Internet, fornecer dispositivos computacionais para alunos vulneráveis e aprimorar as competências digitais são ações que devem figurar na mesma lista de prioridade...” Que essas prioridades sejam referências de agora em diante, se o país quiser recuperar o Índice de Capital Humano. O Brasil tem muitas riquezas, mas faltam investimentos nas pessoas: “O capital humano é a força motriz por trás de grandes mudanças. É a chave para prosperidade.” O Brasil precisa aprender consigo mesmo e começar, o quanto antes, a reverter esse quadro, antes que seja tarde. Se quiser, ainda tem jeito.

 

 REFERÊNCIAS:



¹https://brasil.un.org/pt-br/189001-brasil-perdeu-10-anos-de-progresso-em-indice-de-capital-humano

²https://documents1.worldbank.org/curated/en/099359007012217076/pdf/IDU0c9bcb58a08ac704dbe081eb077b28ef22453.pdf / https://documents1.worldbank.org/curated/en/099700106292257386/pdf/P174674033a7b300e09d0304e4b09d57a2f.pdf em português

³https://querointegral.com.br/mg/


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