O Reino das impossibilidades
O reino das impossibilidades
Certo dia, ao mexer na caixa de correspondências, deparei-me surpreso com um convite a mim destinado, para visitar um reino não muito distante. Dizia, você está convidado a visitar nosso reino, o Reino das Impossibilidades, o local, o dia e a hora fica impossível de dizer nesse momento. O que trazer não se sabe ainda. Achei engraçado existir um reino assim. Entrei em casa e compartilhei a notícia aos parentes. Foram os primeiros a atestarem a não existência desse reino.
- Sabemos isso desde criança. Nossos ancestrais nos falaram. Diziam.
- Um dia até sonhei que eu poderia ser alguém que faria toda diferença para as pessoas com minhas novas descobertas, contei aos mais velhos e logo se declararam sábios para dizer: você deve parar com esses delírios, precisa de tantas qualidades e recursos para tal e, você sabe as condições de nossa realidade, estão bem aquém desse sonho. Concordei na hora e vivi assim até hoje. Disse uma tia sem tirar os olhos da televisão.
É lógico! Pensei. Como é bom consultar as pessoas. Não saberia nem o que levar e nem qual caminho seguir para chegar no dito Reino. Até então estava quieto no meu lugar sem nenhuma novidade e agora chega um convite desses para tumultuar meus pensamentos, refleti. Ouvir que não haveria nada assim pelos arredores, trouxe bastante conforto. Mesmo assim, ousei em falar sobre o assunto com outras pessoas na vizinhança. A maioria teve reações parecidas com a minha, riram muito. Um comerciante, sem hesitar, disse-me que as coisas são como são, não mudam e colocou-se como exemplo:
- Minha família sempre foi comerciante, esse armazém era dela, agora é meu e sigo cumprindo a missão. Esse negócio de Reino das impossibilidades, nunca ouvi falar e nem desejo gastar meu precioso tempo com isso. Abraços!
De fato. Por que chegar uma maluquice logo hoje, com tanta coisa para fazer? Refleti. E não me saia dos pensamentos a imagem daquele convite. De qualquer forma, parece haver o consenso da impossibilidade do próprio reino. Pronto, decidi me alojar na opinião da maioria, pois tinha muita convicção envolvida nisso... Mas, uma coisa ainda intrigava, a afirmação no convite declarando que o reino das impossibilidades estava perto. Quer saber? Achei melhor deixar para lá.
Chegando em casa, a tia da TV havia concluído seus estudos e assistia ao filme de um desenho. Ao me ver sorriu e disse:
- Olha, sobrinho, o filme aqui está parecendo com sua história de hoje. O rei pediu ao jovem que realizasse três coisas impossíveis para a época. Lutar e vencer um soldado muito mais forte que ele; voar e; fazer a princesa que não ria, sorrir, desde a perda do irmão para a guerra. Com sensibilidade, ajuda e fé, está conseguindo realizar as tarefas. Parece que seu assunto me levou a assistir ao filme¹.
E eu que começava a me distanciar do tema... agradeci pelas referências e segui para o quarto.
Pela janela alcancei o velho sentado em uma cadeira na varanda e notei que lia um livro. Às vezes acompanhava a tia no sofá diante a TV mas, naquele momento, após os afazeres na horta, pomar e jardim, optou pela leitura.
- Opa! Disse em um tom mais alto de voz.
- Oi! Respondeu.
- O que estás a ler? Insisti.
- É a Bíblia. Estava exatamente pensando em você. Li dois trechos hoje com a palavra impossível. Primeiro achei em Lc 1,37 a frase:” Porque para Deus nada é impossível”, dita por um anjo. Depois em Mateus 19, 26 diz: “E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível. ” Você e seu convite deixou-nos focados no tal reino das impossibilidades e todo momento o tema aparece. Bom, deixa-me continuar a leitura. Disse, voltando serenamente os olhos ao livro.
Mais uma vez o assunto... mas... foi diferente. Acho que o ocorrido desde a leitura do convite começou a fazer sentido. Foi como um estalo de percepção e consciência: para Deus nada é impossível e, aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível. Intui porque o convite dizia que o Reino das impossibilidades estava perto. Tratava-se de mim, apegado às inúmeras crenças e memórias colhidas e retidas durante todo o tempo, inclusive pelas redondezas. O Reino das impossibilidades era como as pessoas insistiam em ver o mundo sem a experiência da presença de Deus. Era eu até perceber o convite para olhar com profundidade para mim e ver que sou, de alguma forma, regido por pensamentos, atitudes, informações e insistência em seguir um roteiro programado desde meus ancestrais. Era eu negando meu Eu superior...
E quando compreendi e percebi isso, deixando ir as impressões limitadoras em minhas memórias e, entrando em sintonia com a plenitude de meu ser em um êxtase de comunhão com Deus, fui me afastando das impossibilidades e TUDO SE TORNOU POSSÍVEL. Agradeci o convite e o que ele me fez ver. Despedi-me das impossibilidades e fiquei ali, me entendendo com Deus, Pai, Mãe, Filho, e Espírito, atemporalmente, dialogando e projetando as possibilidades... as infinitas possibilidades!
Referências:
1 – A elefanta do mágico. Direção: Wendy Rogers. Netflix. 2023