Milagres acontecem!
Milagres acontecem!
O milagre representa uma mudança na ordem natural, segundo dizem. O dicionário também faz essa descrição. Trata-se de um evento impressionante, extraordinário ou raro, que não se explica pelas leis naturais e científicas. Geralmente, é percebida a intervenção divina, frequentemente mediada por alguém cuja trajetória de vida sugere uma ligação especial com a divindade. Essa conexão, por sua vez, pode ocorrer de forma direta também.
É possível compreender o milagre para além dos conceitos; basta reconhecer certos episódios como manifestações que escapam à previsibilidade, mas que ainda se mantêm dentro de algumas explicações científicas. A vida, por exemplo, mesmo quando explicada, se revela um imenso milagre, onde a união de dois indivíduos, seja no reino vegetal ou animal, transforma-se numa nova existência. Cada ser humano representa vida, história, momento, hereditariedade, cultura e, além de tantas outras facetas, é também um milagre ao se considerar todos os condicionamentos que moldam sua existência. A busca pelo sentido da vida está intrinsecamente ligada ao milagre da própria vida, e essa reflexão traz um conforto significativo.
Olhos e ouvidos mais atentos conseguem identificar um acontecimento extraordinário diante de eventos simples, mas em profunda conexão com aspectos divinais. Depende muito do olhar. Depende também da época. Há poucos anos, uma comunicação por pensamentos poderia ser considerada um milagre; entretanto, atualmente a comunicação ocorre, praticamente, de maneira instantânea através dos telemóveis. Um “milagre” da tecnologia? Talvez! Alteração da ordem natural? Qual seria o conceito de ordem natural? Voltemos à simplicidade da questão.
Por esses dias, surgiu a oportunidade de ler sobre duas pessoas consideradas santas para a comunidade católica: Ifigênia e Rita de Cássia. Santa Efigênia converteu-se ao catolicismo após o contato com São Mateus, discípulo direto de Jesus, aliás, um dos responsáveis por registrar a sua experiência no convívio com o Mestre, através das comunidades que surgiram depois da Paixão de Cristo. Efigênia acolheu o Evangelho pregado por Mateus, entregou-se àquela fé e fundou uma espécie de convento em Núbia, no continente africano. Filha de rei e rainha da região, foi lançada ao sacrifício por líderes religiosos locais que não aceitavam a sua conversão. Posta numa fogueira, orou a Deus e, conforme os contos a seu respeito, foi libertada do fogo, aparecendo em outro lugar. Ocorreu uma tentativa de queimar o seu convento, mas o fogo transferiu-se para os aposentos do seu tio, que havia tomado o trono de seus pais e não aceitava a recusa dela em casar-se com ele. Mateus foi martirizado por não aprovar tal casamento. Depois disso, seu irmão assumiu o trono de direito. Nessa história, vê-se descritos dois fenômenos miraculosos: o teletransporte dela e, tempos depois, o elemento fogo do convento ao local onde estava o ilegítimo rei. As pessoas católicas recorrem a ela como intercessora para a proteção da casa e até mesmo para a realização da conquista de uma casa para abrigar a família. Muitos relatos expressam a forma mística de como algumas pessoas conseguiram acesso à casa própria após rezar à Santa Efigênia. Olhos e ouvidos mais sensíveis percebem o milagre presente neste feito.
Rita de Cássia, fiel a Deus, aos pais, ao marido e aos filhos, teve uma vida de constante oração. A sua história é marcada por dores ao perder marido e filhos para conflitos violentos. Rezou muito para que assim não o fosse. Sozinha sentiu o chamado para ingressar num convento. Os princípios da época fundamentaram a rejeição do acesso. A história é muito maior e pode ser conferida em livros sobre a sua vida. O fato é que um dia, após tantas negativas, ela apareceu no convento estando as portas fechadas ultrapassando, desta forma, as resistências. Passou a residir ali em profunda espiritualidade. Uma ferida na testa, o aroma de rosas e a planta seca que volta a manifestar vida são algumas marcas da estadia junto às irmãs agostinianas em Cássia, na Itália. É considerada a santa das causas impossíveis pelas pessoas que lhe oferecem as suas preces. Muitos manifestos podem ser ouvidos dos devotos mais fiéis.
Em Aparecida do Norte, São Paulo, na Basílica dedicada à Nossa Senhora Aparecida, há uma sala intitulada "sala dos milagres", com incontáveis objetos deixados lá como reconhecimento de um feito extraordinário na vida das pessoas que dedicaram o seu momento de fé na intenção de ver realizado em suas vidas o milagre desejado. Um trabalho, um dinheiro, o caminho para a cura de uma dificuldade na saúde, um convívio problemático, uma ferida no coração… e tantas outras possibilidades que dependem da subjetividade religiosa de cada pessoa.
Uma tomada de decisão também pode ser considerada um milagre. Uma coisa é certa: a iluminação divina é o início do milagre. As pessoas lidam com a dimensão da religião, pode-se dizer, desde os primórdios da humanidade. Na história geral, há sempre traços de práticas religiosas. A busca de um ser superior à própria humanidade. E, como todo ser é, de algum modo, criador da sua realidade, significa que há em cada pessoa a presença de elementos místicos e divinais. Algumas vão além e oferecem um testemunho extraordinário desta mística, como as santas retratadas aqui. Outras se manifestam como recebedoras de acontecimentos formidáveis. Algumas se recusam a crer nas possibilidades. Há as que demoram a compreender o milagre que é a própria vida. E ainda há quem esteja assíduo na prática da espiritualidade, com a certeza daquilo que já está feito, a certeza daquilo que se espera. (Hb 11,1)
Agora, quando se colocar diante do infinito Ser para dedicar-lhe um momento de interiorização, tenha na mente e no coração tantos exemplos de acontecimentos beneficamente incomuns que demonstram o milagre e, nesta atitude diante do Criador, faça-o com plena confiança e com o sentimento de que: milagres acontecem!