O portão

Sidney Jorge • 15 de dezembro de 2020

O portão

Por Sidney Jorge


Nessas andanças na vida chegou em minhas mãos um livreto de anedotas. Tive a curiosidade de ler algumas e uma delas trouxe uma reflexão. Há 40 anos as piadas não consideravam o “politicamente correto” tão em pauta atualmente e, não tenho posse do livro que provavelmente sumiu com o avanço do tempo. De qualquer forma, mesmo que não fique nada engraçada, vou tentar recontá-la adaptadamente procurando vocábulos mais sonoros, esforçando em evitar a forma agressiva próxima do original. Porém, o contexto desse pensamento mostrará que existem muitas pessoas a identificarem-se com a história a seguir.


Duas pessoas que estavam internadas em uma instituição devido alguns problemas de ordem mental e psicológica, combinaram uma fuga, diziam entre si que não aguentavam mais estar ali. Um dia encontraram-se, conversaram e iniciaram um planejamento e após riscos e rabiscos concluíram que a melhor maneira de escapar era saltando o portão. Decidiram quem iria averiguar os arredores do portão no dia combinado para a fuga. Então, no determinado momento, uma delas foi até o local, observou estar praticamente tudo favorável, mas ela retornou desanimada e deu a triste notícia a outra pessoa: 

 

 — Não vai dar para fugir hoje não, disse.

 — Mas por quê? Tem gente lá? O que aconteceu? Indagou a outra. 

 — O portão está aberto! Respondeu.

E assim o plano de fuga se desfez.


Diante a história, não demorou muito tempo para pensar sobre o que ela veio apresentar além da conotação anedótica. Muitas pessoas, que não estão em tratamento, sentem-se, assim, prisioneiras com o portão totalmente aberto. Significa que a prisão está dentro e não fora. Quando isso acontece fica quase impossível observar as oportunidades que a vida traz. Será que existem pessoas que vivenciam quadros assim? De sentirem-se prisioneiras? E, quais situações poderiam "encarcerá-las"? Talvez uma depressão, ou problemas financeiros como dívidas, consumismo, falta de renda, de trabalho, quem sabe problemas de relacionamento, afetivos, às vezes limitações físicas, psicológicas, doenças, bloqueios mentais frutos de programações de uma vida inteira. Ainda, prisioneiras do rancor, do ódio, da polarização, da violência, da baixa autoestima, da sociedade, há indivíduos presos a negacionismos, a corrupções, tem gente presa ao passado, e, existem provas de alguém presa a convicções… Enfim, terrivelmente, inúmeras situações causam uma falsa cegueira, onde a pessoa vê o portão aberto, entretanto, o aprisionamento interior não lhe permite se livrar das amarras, ultrapassar suas limitações e atravessar o portão.


A favor da verdade, uma coisa é bem certa: o portão está aberto, ou melhor, os portões estão abertos. A missão parte da iniciativa de evitarmos tornar encarceradores das oportunidades, por estarem lá fora ou, aqui dentro, depende. Talvez tenhamos que romper com os bloqueios neuropsicológicos e alcançar passo a passo a infinidade das possibilidades. Primeiro é contemplar a filocalia presente em tudo, que significa a dinâmica da vida em plenitude, é o que todos queremos e buscamos: sermos felizes e prósperos e, por que não, realizar tais virtudes em comunhão? Depois, reconhecendo e tomando consciência de que os portões fechados que impedem o livre acesso à tantas possíveis conquistas podem estar em nós. Assim, o caminho torna-se mais brando porque essa consciência deve identificar os devidos passos a serem seguidos rumo à realização. Pode ser através da oração, um diálogo, do perdão, da conciliação, da busca de ajuda profissional, seja médico ou psicológico. Participar de eventos que reconheçam o valor da pessoa humana, e, às vezes, a leitura de um texto, ou de um livro, basta para despertar a consciência rumo à fuga, à liberdade daquilo que esteja nos aprisionando. Importante contextualizar que até mesmo uma vacina poderá ser instrumento de desconfinamento e de reaproximação das pessoas, trazendo um estado de normalidade à convivência social, ao haver, com razão, o sentimento universal de estarmos também presos mentalmente devido à pandemia.

Podemos finalizar a mensagem convocando as pessoas a olharem bem, bem mesmo, e assim perceberem sempre que, apesar de tudo, OS PORTÕES ESTÃO ABERTOS…


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