Sobre o perdão.
Sobre o perdão.
Uma das atitudes mais desafiadoras a todas pessoas. Sim, o perdão é sentimento e atitude juntos e separados. Inicia em um processo interior quando se acolhe, na mente e no coração, a grandeza do perdão por isso, é sentimento. Depois caminha para a necessidade de fazer uma experiência interior e, muitas vezes, impulsiona ir ao encontro – podendo ser ela própria quem necessita do perdão - como também acontece no itinerário à quem carece do perdão então, sentimento e atitude se entrelaçam numa unidade.
O perdão é libertador em duas vias, para quem perdoa e para que recebe o perdão. Normalmente, o perdão é, antes de mais nada, importante para si mesmo. A capacidade de se perdoar torna-se um instrumento mais profundo de integração dos diversos fenômenos ocorridos ao longo da vivência. Já inicia nos primeiros relacionamentos com os pais, irmãos parentes, às vezes diversas cicatrizes são impressas no coração por diversos motivos, a princípio, alheios à vontade. Mas o que fazer com essas marcas sentimentais? O caminho é o perdão. Ocorre que se apreende no convívio social de forma quase e, infelizmente, corriqueira a linguagem da culpa, fazendo as pessoas constituírem suas relações numa dimensão da culpabilidade. Diante algumas circunstâncias percebe-se o seguinte: pais e mães culpando filhos, filhos culpando os pais, mães e responsáveis, esposas culpam os maridos e eles culpam as esposas, os casais se culpam, os mestres culpam os alunos que culpam os professores, o povo culpa os políticos, os políticos culpam a sociedade. Óbvio que, de acordo com os fatos, há responsabilidades a serem observadas, investigadas, registradas e compensadas. Mas quando praticamente toda linguagem expressa no cotidiano se pauta na culpa, não é difícil perceber que a sociedade e cultura estão envoltas por um universo ruim: o universo da culpa. E muito ruim, ao partir do princípio e exercício de desconstruir pessoas e relações para conferir uma pseudo-auto-validação à quem se acha detentor da excelência e supremacia humana. E vai-se para todos os lados carregando as sacolas de pedras emocionais, verbais e lamuriosas para serem arremessadas na primeira oportunidade.
Diante um quadro desses, pincelado na tonalidade da culpa, é pertinente resgatar para vida e reflexão a dimensão oposta à culpa que é a do perdão. Perdoar nem sempre é esquecer por tratar-se de um sentimento nobre, enquanto o esquecimento está mais para instância física da própria memória. O perdão então é uma celebração da libertação das amarras sentimentais trazidas ao longo da vida, apoiado no desprendimento do ego. Antes que se pergunte, perdão e justiça são diferentes. Cabe outra reflexão sobre a justiça, pode ser que a justiça não perdoe e que o perdão não seja justo. O importante, no âmbito do perdão, é ter a consciência de que ao celebrá-lo está se eliminando uma carga paralisante que confunde o caminho rumo a contemplação dos sonhos e dos bons propósitos das pessoas envolvidas. Bem-aventuradas as pessoas amparadas pela capacidade de perdoar. Se a sociedade tivesse a coragem de executar um processo educativo voltado a concepção do perdão, certamente seria inaugurado um novo jeito de conduzir a organização de tudo, administração, economia, relações, até porque a consciência do perdão impediria muitos ultrajes sofridos principalmente pelos mais fracos, pois quem não está com sequelas emocionais de culpa, certamente não haverá de provocá-las em outras pessoas.
Um caminho para compreender a dimensão do perdão e todo seu significado é a reflexão, a interiorização, o exercício da espiritualidade (A espiritualidade, a oração, a transformação). A busca pelo autoconhecimento traz muitas revelações sobre vários movimentos pessoais que carecem de aprimoramento físico, energético e espiritual. Encontrar-se-á assim, entre outras moções, o caminho do perdão, abrindo oportunidade para renovação das relações familiares, afetivas e da própria comunidade. Que cada pessoa acolhedora da profundidade e capacidade de transformação implícita na dinâmica do perdão, possa ser semeadora desta riqueza.