Ainda sobre o jardim, uma reflexão sobre o cuidado
Ainda sobre o jardim, uma reflexão sobre o cuidado
Por Sidney Jorge
No texto "Proibido pisar a grama" foi apresentada uma metáfora reflexiva sobre a magnitude universal do cuidado. Quem representa o jardineiro? O que representa o jardim? Quem seriam as pessoas que desprezam o jardim? Quem seriam os guardiões?
Em um primeiro momento podemos refletir que o jardim é a própria terra, o jardineiro é o Criador, as pessoas que desprezam o jardim representam as ideologias, que visam a destruição de tantos ecossistemas para atender ao interesse do capital em suas entranhas mais perversas, quando desprezam a vida. Podemos imaginar que o jardim seja a floresta amazônica, o jardineiro, seriam aquelas pessoas, ou sistemas que possuem sentimento e atitudes de cuidado e preservação, pessoas que têm a visão e consciência da importância da floresta para os países e todo o planeta, dadas as incontáveis espécies de seres vivos da fauna e flora existentes lá e, os povos nativos que ainda possuem uma relação de interatividade natural com o lugar¹. Infelizmente, vêm as pisadas, o concreto, que podem ser representados pelas queimadas criminosas², pelos garimpos irregulares³, pelo desmatamento impiedoso4 , pela abertura de estradas5 , pela ampliação desregrada do agronegócio6, pela mortandade de tantos animais e agressão aos nativos7. Parece que a placa, a lei (código ambiental, lei 12651/12) está longe de ser compreendida, entretanto não impede de acreditar nessa possibilidade.
Depois olhamos para as pessoas, exclusivamente as que mais necessitam de cuidados específicos tais como: idosos, crianças, portadores de necessidades, em situação de risco ou não. Elas representariam o jardim, o jardineiro seria quem cuida e defende essas pessoas. Ah, mas há quem pisoteia os mais fracos, humilha, agride, acedia, encarcera, cria dependências psíquicas, afetivas, e infelizmente, até mesmo, elimina. Essas dilacerações abrem forçosamente caminhos, talvez, irreparáveis nos corações. Futuramente surgem os concretos, figurados nos medicamentos, internações, tratamentos para tentar reparar o estrago. Daí vêm as placas, as leis: Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), Estatuto da criança e do adolescente (Lei 8069/90), Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), Estatuto da pessoa com deficiência (lei 13546/2015) e mais... até, quem sabe, haja a compreensão da necessidade do respeito, do cuidado, até a introjeção do significado da vida e suas manifestações mais sadias e divinas, reconhecendo no outro a expansão da minha própria existência que permitirá entender que, ao cuidar e zelar pelo bem estar de nosso semelhante, estaríamos cuidando de nós mesmos. Aqui lembrando, na metáfora, o símbolo do cuidado dos jardins dos outros. Parece que, assim também, a placa está longe de ser compreendida por todos que deveriam, sinalizando o processo de sua retirada, e mais uma vez, não impede de acreditar, intencionar, conscientizar e agir para que, um dia, assim aconteça. Seremos bem melhores.
Continuando, lamentavelmente, carece de registrar o período histórico da sociedade brasileira. A pandemia ganhou uma expressão ímpar no país, muito diferente a outras nações. A mistura de negacionismo com ações diferenciadas e pulverizadas de enfrentamento ao tão difundido vírus, mergulhou o Brasil no terceiro lugar mundial em número de casos e, segundo em ocorrências de óbitos decorrentes da covid-198, ainda, apresentando uma variante que ameaça vizinhos e outros9.
Olhando a metáfora percebendo o território brasileiro e seus moradores como o jardim, poderíamos aceitar que os médicos, enfermeiros10 e cientistas debruçados nas pesquisas de formulação da vacina11 seriam “o jardineiro”. Esperava-se que esse papel fosse de um ministro da saúde cuja ocupação focasse na união de todos esforços para entendimento da dinâmica da pandemia, chegando a um caminho, sensato e científico, visando proteger os cidadãos, a exemplo de outros que vislumbram certa normalidade a frente. Entende-se, na verdade, um pisoteio, um negligenciamento da importância e significado da vida. Não vemos, entretanto, a “placa” no devido lugar – até porque os responsáveis por isso, também apresentam um momento crítico e de inconstâncias em seus ordenamentos e indeterminações da justiça. Não se vê, geralmente, as pessoas cuidando das outras, muitas aglomerações desnecessárias, rostos sem a máscara facial, imprecisões no processo das vacinas e, não menos importante, um péssimo exemplo daquela referência, escolhida pelos eleitores, que deveria apresentar-se como jardineiro chefe, inspirando sobriamente o cuidado. Ao contrário manifesta palavras e atitudes desrespeitosas com a saúde da população, incentivando e provocando aglomerações sem o uso da máscara12, sabotando vacinas, minimizando (mimimizando) o impacto das perdas das famílias brasileiras, veiculando medicamentos sem comprovação científica favorável ao combate da doença13...
Conclui-se. O povo e seus representantes não tomaram consciência do significado do “jardim” para todos. Se assim fosse, haveriam certezas da necessidade da troca do jardineiro para tentar salvar o que resta do jardim.
Em tempo, no nosso vizinho, o Paraguai, uma multidão vai às ruas pedindo a renúncia do presidente por negligenciar o combate à pandemia...querem a troca do jardineiro!14
Referências:
https://www.uol/noticias/especiais/garimpo-ilegal-na-amazonia.htm#a-busca-por-ouro-na-amazonia
8. https://news.google.com/covid1